Meus pelos sobem, minha espinha dorsal esfria, minha cabeça dói toda vez que escuto alguém dizer “que a música brasileira não é a mesma. Não tem nada de bom e novo por aí. A música brasileira morreu.” É horripilante ouvir isso! Como falar que não existe música boa (e estou falando de música muito boa) quando temos Rodrigo Campos, por exemplo? Como afirmar que a poesia morreu, quando há FelixBravo? Ainda há Arthur Nogueira, Céu, Pedro Miranda, Lucas Santanna, Bebel Gilberto, Vinícius Calderoni, Vanessa da Mata, Thalma de Freitas, Otto, Novos Bossais… Isso para citar alguns (e sendo bem injusto, porque falta um bocado de gente aí).
A música brasileira anda muito bem obrigado, senhores conservadores que não abrem seus ouvidos para o novo. E sabe qual a melhor parte? É música nova. É música mistura: juntaram a tal MPB (o coletivo de música brasileira que só serve para a gente rotular o que é irrotulável), o pop, o brega, a bossa nova, as influências internacionais (graças a algum deus, cada vez mais música latina). Essa gente bronzeada está mostrando o seu valor. Esquentamos nossos pandeiros, colocamos a viola sertaneja, a letra brega (que aliás, agora é tendência: o brega é o novo pretinho básico), e principalmente, criatividade. Que delícia! Não?
Resolvi, então, ir conversar com alguns mestres da música brasileira para saber o que eles achavam de tudo isso. O Roberto Carlos soltou, logo de primeira: “não adianta nem tentar me esquecer.” Detalhe: ele completou dizendo que durante muito tempo em nossa vida ele var viver. E é verdade. Chico Buarque lembra que “foi Antônio Brasileiro [Tom Jobim] quem soprou essa toada.” O que foi Tom Jobim para a música brasileira? Ainda não consegui entender, é preciso muita sinapse. Por falar em bossa nova, o Vinícius de Moraes deixou claro que “o samba nasceu lá na Bahia e se hoje ele é branco na poesia, ele é negro de mais de coração.” O samba, atualmente (graças a algum deus, não sei se é o mesmo) é feito em todos os lugares e por todas as cores. “Saravá.” Aliás, o Eduardo Gudin retruca e afirma que “se o samba vem do Rio [de Janeiro] e da Bahia, o samba também vem, São Paulo sempre tem.” Que delícia tudo isso! É de música que vivemos, não é?
Por falar nisso, o que é a música senão o verdadeiro ritmo em que nossos corações batem? Não me lembro, sinceramente, a primeira vez que escutei uma canção (triste isso, eu iria chorar de emoção toda vez que lembrasse). Aqui em casa, ouve-se música o tempo todo (graças a algum desses deuses aí). Lembro por exemplo, a primeira vez que resolvi ouvir Chico Buarque, de verdade. Peguei o CD dele com a Maria Bethânia, aos 14 anos, e fui para o quarto ouvir. Lembro, aos nove anos, por exemplo, de me fechar em meu quarto e ouvir Tom Jobim sem parar. Foi ali na gaveta cheia de CDs, que fui descobrindo a música.
Música se descobre assim: primeiro se deve ouvir; depois conversar com os sentimentos “o que isso me causou? O que isso me lembra? O que essa música faz comigo?”. Pronto. Fazemos isso, na maior das vezes, inconscientemente. Quando percebemos, a música já está no repetir. Que delícia! Ainda bem que existe a música. E o melhor: ainda bem que existe gente nova, fazendo música nova.
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Obs.: Falou e disse!
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